31.3.05

Enxurrada de sites bons

Tá foda. Prometo me disciplinar para postar mensagens constantemente, mas não consigo. E não são poucas as coisas que andam passando pela minha cabeça. Hoje venho com uma enxurrada de sites bons. Apesar de ser uma verdadeira desculpa por não ter tempo de sistematizar melhor minhas idéias nesse tímido e esconso “diário”.
O primeiro site que indico me veio pela notícia de que o Elliott Erwitt estará no Brasil em maio. Fui apresentado à sua obra por intermédio do Márcio, grande (e muito sossegado) colega de faculdade. Na época, ele estava às voltas com um projeto sobre cachorros, tema que havia escolhido meio por impulso. Um dia levou um livrinho do Erwitt da Photo Poche, com umas fotos de cachorro. Impressionante aquele ensaio. Divertido, inteligente, rápido, instigante, o olhar de Erwitt realmente surpreende. Ele tem um estilo consagrado pelos fotógrafos da Magnum, que até hoje está impregnado em muito do que é produzido no mundo da fotografia. Mas guarda um olhar próprio (como todos os grandes fotógrafos que passaram pela Magnum); guarda uma linha de trabalho singular. E veja quantos não foram mestres como ele, fazendo uso da mesma forma de registrar o mundo, mas com nuances muito diversas de temática e estilo: Cartier-Bresson, Robert Frank, Garry Winogrand, Lee Friedlander, Willian Klein... Pensava nele como poeta menor, mas depois de ver outro livro seu, sobre museus, e principalmente depois de acessar seu site tive minha convicção transformada. Confiram vocês mesmos.
Um desses grandes mestres da fotografia foi premiado recentemente com o Hasselblad Award, o mais importante prêmio da fotografia. Se quiserem saber detalhes da biografia de Friedlander e depois saber um pouco mais do prêmio e de que já o ganhou, acesse este site. Apenas adianto que Friedlander foi decisivo na grande fase que viveu a fotografia documental no Estados Unidos nos anos 60 e 70 do século passado.
Passando da “straight photography” para expressões contemporâneas que vêm romper com essa tradição que já se moldou em cânone, indico um blog em que os usuários indicam links de fotógrafos alemães contemporâneos. Há uma batelada deles e ainda estou apenas no começo da garimpagem. Mas alguns nomes (uns já conhecidos outros não) têm me impressionado bastante: Andréas Gursky, Thomas Struth, Hans-Christian Schink, Wolfgang Tillmans, além Bernd e Hilla Becher. Em particular, indico uma página que está no blog, que traz o portfólio de fotógrafos formados na famosa escola de Düsseldorf. O espaço é organizado por Thomas Ruff, que também é formado por lá.
Sem dúvida, uma fotografia bem diferente da que está se fazendo aqui no Brasil. Nos mesmos moldes do blog alemão, temos um de fotógrafos brasileiros. Vale conferir, pois tem muita gente boa por lá. Pena que o bog não conta com comentários para guiar o navegante, apenas links e fotos, mas, por outro lado, isso pode até ajudar a encontrar surpresas. Outro ótima pedida para fotografia brasileira é o site de uma universidade de Barcelona que traz uma tese na íntegra defendida por lá sobre A Fotografia Contemporânea Brasileira.
Pelo nome da autora, presumo que ela seja brasileira.
E por último, que o pique já acabou e já são quase três da matina, indico o site do MoMA, museu novaiorquino que absolutamente dispensa comentários. Trata-se de uma breve história da fotografiacontada em um tour com imagens de fotógrafos consagrados pertencentes ao acervo da casa. Cada imagem traz um pequeno e esclarecedor texto embaixo, falando do autor e de sua importância para a formação dessa arte técnica ou dessa técnica artística.
Vai, só pra finalizar, um site com textos sobre fotografia de outro grande museu, a Tate, de Londres. Esse número da revista da casa é especialmente voltado para a fotografia, com destaque para um texto feito para o catálogo de uma grande exposição que rolou lá com inúmeros fotógrafos americanos e alemães,
levantando a questão do documental na fotografia artística.

17.3.05

De repente... o obliquo


Sempre em mim o nunca


Guardo comigo

uma prece

que nunca

vou professar.

Existe em mim

um apelo

(uma dádiva

talvez)

que se extingue

quando rezo.

Se pudesse tocar

esse sentimento

sua amplitude

não me tocaria;

dunas que se

acumulam

sempre

diferentes;

rima em que

tropeço

antes de se

formar.

Sabe;

esse hiato

que nos conforma

é o último

gole

que trago

de um ser

que evaporou.


E.M.E.

15.3.05

Livro na íntegra

Um ótimo livro: essa foi a classificação dada pela Simonetta sobre Uma História Crítica do Fotojornalismo Ocidental, do português Jorge Pedro Souza. Hoje, sapeando na net, encontrei a versão completa do livro... Ei-lo para quem quiser conferi-lo.

Cânone e especulação

Garçon à la Pipe - obra de Picasso de 1905 que foi vendida na Sotheby´s por 104 milhões de dólares em maio de 2004 Posted by Hello


O cânone modernista está consolidado. Aquela geração que revolucionou a arte na virada do século XIX para o XX é a mais badalada e valorizada hoje no mundo da arte. Como arte é, apesar de tudo o mais, uma mercadoria, podemos constatar pelos 100 quadros mais caros do mundo que há uma hierarquia de gosto e um estabilishment que apontam para as obras de Picasso, Van Gogh, Monet, Cézanne, Manet e Renoir como as mais valiosas da história da arte. Mas como arte não é sabão em pó, podemos levar a sério tal termômetro?

Em maio de 2004, quase 100 anos depois de Picasso ter pintado Garçon à la Pipe, a obra foi vendida 104 milhões de dólares em um leilão da Sotheby’s. Trata-se do primero leilão de arte a romper a barreira dos 100 milhões: um mercado tão inflado, corruptível e duvidoso quando as bolhas financeiras que o sustentam. Pelo menos Picasso usufruiu de sua fama e fez um bom marketing pessoal em vida, caso bem diverso de um Cézanne ou de um Van Gogh. Inapelavelmente, somos levados à conclusão de que o mundo das artes respeita mais ou menos a mesma lógica do futebol ou das modelos: existe uma penca de mortos de fome enquanto uma meia dúzia de espertos se aproveita do filão milionário. Isso certamente não significa que quem sabe fazer marketing pessoal não tenha talento, nem que o cânone modernista não significou uma revolução na história da arte...

Veja aqui os 100 quadros mais caros do mundo: http://www.antiqvaria.com/cuadros/

PS: Não há nenhuma mulher dentre os autores das obras

2.3.05

Mais Belém

Estive com o Marson na exposição do Luiz Braga em cartaz no MAM-SP. Não sou tão entusiasmado como meu amigo, que considera o Braga o melhor fotógrafo brasileiro, mas mesmo assim fiquei impressionado. Desejo frisar aqui alguns aspectos únicos da obra do Braga que me chamaram a atenção (assumo a co-autoria do Marson, pois fomos desenvolvendo as idéias enquanto passeávamos pela exposição).

1- o aspecto mais óbvio: a mistura de luzes desbalanceadas. O Braga fez um uso intenso desse expediente, muitas fotos de lusco-fusco misturam a filtragem ímpar dos céus de Belém com luzes internas às cenas registradas, criando um impacto único que liga um pouco sua obra à de Miguel Rio Branco. As cores saturadas ajudam a complementar essa estética. O uso do cromo entre o fim da tarde e o começo da noite resulta, em alguns casos, em um ligeiro desfoque, talvez causado pela baixa velocidade demandada. Esse é um grande charme, que evoca ligeira ilusão impalpável. Se vc vê de longe, há o foco e a figuração, se vê de perto, grãos que se diluem em efeitos cromáticos sem fronteiras precisas.

2- Os retratos: há algo de muito forte neles, que certamente nasce da interação do fotógrafo com os fotografados. O menino dos amendoins, o garoto e o cão, o estivador cortando uma laranja ao meio, o barqueiro que posa deliberadamente, o moleque com a pipa, os vendedores de açaí, a mãe e sua filha num pequeno boteco, a babá e a criança que observam o rio, a garçonete, pessoas imersas na vida da cidade, que não levam em si a necessidade de aparecer ou posar. A sinceridade reina absoluta sobre a aparência. Marson captou algo de vulnerável nesses personagens do cotidiano da cidade que ganham uma aura de pureza e fragilidade. Não concordo que o garoto com o cão esteja com um quê de homossexualismo. Pelo contrário, há uma virilidade de moleque que se entrevê pelo enquadramento magistral. Mas fecho plenamente com Marson quando este vê nos retratos o ápice da mostra e uma das grandes manifestações do gênio fotográfico de Braga.

3- O apuro formal: nas fotos de Braga, as cores não aparecem de forma gratuita, mas em um todo harmonioso e bem composto. A composição e o corte são elementos indissociáveis da estética fotográfica, que o fotógrafo demonstra dominar completamente. Destaco, nesse sentido, a foto da mesa de sinuca, que dissolve a tridimensionalidade da quina e da bolinha em nome de composição formal bidimensional.

E viva Belém e a fotografia paraense!

Além de Braga, ainda estarão em cartaz simultaneamente em São Paulo Flávio Damm na Pinacoteca, Luiz Trípoli no Masp e Mapplethorpe na Fortes Vilaça... um mês que promete.