O jornalista, o crítico e o filósofo
Um grande amigo e orientador da época da faculdade dizia uma frase que me marcou muito: "sem Hegel, Marx seria um mero jornalista". Embora fizesse graduação em jornalismo, sempre concordei em gênero, número e grau com a afirmação. Se, por um lado, Marx tinha em sua prosa toda força de um jornalista: era direto, didático, por vezes até panfletário. Por outro lado, foi exatamente sua formação em filosofia que lhe conferiu tamanha profundidade. O Manifesto de 1848, por exemplo, é um dos textos mais panfletários de Marx. Inflamado, direto, persuasivo, dirigido às massas proletárias. Mas cada vez que volto ao Manifesto sua genialidade se faz ainda mais manifesta e a profundidade da prosa vai revelando novas camadas de entendimento.
De nada adianta ser profundo e insuportável. Hegel atingiu o ápice da intelectualidade no pensamento ocidental. Porém, raras vezes seu pensamento sai do âmbito da filosofia. Marx foi tão profundo e radical no pensamento quanto Hegel . Entretanto, suas idéias ifluenciaram milhares, proporcionaram revoluções, tiveram conseqüências políticas graves.
Quando fazia jornalismo, confesso ter sentido repulsa pelo jornalismo. Cheguei a quase passar no mestrado em Ciências Sociais com uma proposta de leitura d'O Capital e até imagino que ter me formado em jornalismo foi um dos empecilhos para tanto.
Hoje, penso de forma muito diversa. A fotografia foi uma das maiores responsáveis por essa mudança... uma atividade que exige contato direto com o real, interação inevitável com pessoas, diálogo, uma relação de atrito com o fenomenológico. Trabalhando como jornalista e fotógrafo hoje, percebo que duas das principais virtudes de um bom texto vieram justamente de minha prática profissional: a abordagem direta e clara, e a abertura para que o discurso dos outros se apresente. Mas percebo que minha sólida formação teórica é que fornece o diferencial. Ela não está latente nas reportagens que publico, mas é a estrutura, como as vigas de um prédio, que o sustentam sem estar aparentes.
Tudo isso me veio à mente, por causa de um livro, chamado "Clement Greenberg e o debate crítico", no qual Greenberg e outros críticos dialogam em torno das questões da arte modernista. Com exceção ao texto de Leo Steinbergm, a maioria dos escritos giram em torno de questões abstratas, mal fundadas porque sem uma sustentação fenomenológica. A mais evasiva de todas é Rosalind Krauss, especializada na arte de dizer muito sem dizer nada. Isso sem falar nos textos de Greenberg, muito bem escritos, porém dogmáticos demais. Admiro mais Schapyro, Gombrich e Argan, argutos em suas análises muito bem diluídas nos fatos reais, em retomadas históricas de enorme erudição. O trabalho do crítico corre o risco de ficar em uma zona de indeterminação, como é o caso de Greenberg: não tem a profundidade da filosofia e não tem a fluência do jornalismo. E minha jornada, ainda recém-iniciada, no campo do jornalismo cultural sempre se debaterá entre a questão da fluência e da profundidade, entre jornalismo e filosofia, entre conhecimentos gerais e conhecimento teórico, fugindo sempre da crítica de caráter greenbergiano.
De nada adianta ser profundo e insuportável. Hegel atingiu o ápice da intelectualidade no pensamento ocidental. Porém, raras vezes seu pensamento sai do âmbito da filosofia. Marx foi tão profundo e radical no pensamento quanto Hegel . Entretanto, suas idéias ifluenciaram milhares, proporcionaram revoluções, tiveram conseqüências políticas graves.
Quando fazia jornalismo, confesso ter sentido repulsa pelo jornalismo. Cheguei a quase passar no mestrado em Ciências Sociais com uma proposta de leitura d'O Capital e até imagino que ter me formado em jornalismo foi um dos empecilhos para tanto.
Hoje, penso de forma muito diversa. A fotografia foi uma das maiores responsáveis por essa mudança... uma atividade que exige contato direto com o real, interação inevitável com pessoas, diálogo, uma relação de atrito com o fenomenológico. Trabalhando como jornalista e fotógrafo hoje, percebo que duas das principais virtudes de um bom texto vieram justamente de minha prática profissional: a abordagem direta e clara, e a abertura para que o discurso dos outros se apresente. Mas percebo que minha sólida formação teórica é que fornece o diferencial. Ela não está latente nas reportagens que publico, mas é a estrutura, como as vigas de um prédio, que o sustentam sem estar aparentes.
Tudo isso me veio à mente, por causa de um livro, chamado "Clement Greenberg e o debate crítico", no qual Greenberg e outros críticos dialogam em torno das questões da arte modernista. Com exceção ao texto de Leo Steinbergm, a maioria dos escritos giram em torno de questões abstratas, mal fundadas porque sem uma sustentação fenomenológica. A mais evasiva de todas é Rosalind Krauss, especializada na arte de dizer muito sem dizer nada. Isso sem falar nos textos de Greenberg, muito bem escritos, porém dogmáticos demais. Admiro mais Schapyro, Gombrich e Argan, argutos em suas análises muito bem diluídas nos fatos reais, em retomadas históricas de enorme erudição. O trabalho do crítico corre o risco de ficar em uma zona de indeterminação, como é o caso de Greenberg: não tem a profundidade da filosofia e não tem a fluência do jornalismo. E minha jornada, ainda recém-iniciada, no campo do jornalismo cultural sempre se debaterá entre a questão da fluência e da profundidade, entre jornalismo e filosofia, entre conhecimentos gerais e conhecimento teórico, fugindo sempre da crítica de caráter greenbergiano.