30.1.05

Cadernos de cultura

O Estadão, em fase de transformações, impressiona com seu conteúdo de domingo. Um grande destaque vai pro caderno Aliás, que está trazendo textos de peso sem ser pesado demais. O caderno é todo feito de artigos e grandes reportagens sobre temas candentes da semana. Por isso, é inteligente sem ser frio. E uma surpresa: o pensamento político à esquerda e até o termo “marxismo” estão aparecendo, além de figuras como Terry Eagleton, Eric Hobsbawn e José de Souza Martins (teóricos que raramente são lembrados por jornalistas). Uma valiosa contribuição para o jornalismo, que não pode ser visto só como apuração e quantidade de informação, mas também como interpretação e qualidade da informação.

Isso sem querer desmerecer o caderno Mais!, da Folha de S. Paulo, que há muito se destaca como um espaço mais que alternativo, quase intocado pelo leitor comum, mas muito apreciado por uma pequena minoria de “pensantes”, livres ou não. Um espaço menos comprometido com a atualidade e mais hermético que o Aliás – diferenças editorias que não pressupõem qualquer hierarquia de qualidade. Há pouco a Folha percebeu que o Mais! não se destina aos mesmos temas que a Ilustrada e passou a editá-la também aos domingos. Uma dádiva para o leitor.

Só falta agora o Estadão adotar também o ombudsman, uma iniciativa de inestimável valor que ainda deixa seu concorrente direto, a Folha, alguns centímetros à frente.

Abaixo, um trecho magistral do artigo de Terry Eagleton que saiu no Aliás deste domingo, abordando o surgimento e a proliferação dos homens-bomba no Oriente Médio:

“Os homens-bomba e os grevistas da fome se dispõem a transformar a fraqueza em poder. Como estão prontos para morrer e seus inimigos, não, eles obtém uma vitória espiritual sobre estes. A derradeira liberdade é não temer a morte. Se você deixa de temê-la, o poder político deixa de dominá-lo. Os que não têm nada a perder são extremamente perigosos. Mas os homens-bomba também roubam de seus antagonistas os únicos aspectos de si mesmos que eles podem controlar: seus corpos. Privando seus mestres desta parte manipulável de si mesmos, eles se tornam invulneráveis. Nada é menos dominável que o nada. Escorregando por entre os dedos do poder, deixando-o de mãos vazias, eles o obrigam a trair a sua própria vacuidade. Trata-se, é verdade, de uma vitória de Pirro. Mas é uma proclamação que o adversário não pode aniquilar o desejo da aniquilação. Como o herói trágico tradicional, o homem-bomba supera a sua própria destruição pela resolução mesma com que a abraça.”

29.1.05

Tudo tem um começo

Aqui está!
Depois de certo embaraço e muita enrolação, inauguro o espaço para falar um pouco de fotografia, poesia... pequenos detalhes, revelações inusitadas, leves lampejos, pontos de vista, observações espontâneas, dicas duvidosas, assertativas enigmáticas
.... de tudo um pouco
o que eu normalmente não falaria
senão para mim mesmo.