Cadernos de cultura
Isso sem querer desmerecer o caderno Mais!, da Folha de S. Paulo, que há muito se destaca como um espaço mais que alternativo, quase intocado pelo leitor comum, mas muito apreciado por uma pequena minoria de “pensantes”, livres ou não. Um espaço menos comprometido com a atualidade e mais hermético que o Aliás – diferenças editorias que não pressupõem qualquer hierarquia de qualidade. Há pouco a Folha percebeu que o Mais! não se destina aos mesmos temas que a Ilustrada e passou a editá-la também aos domingos. Uma dádiva para o leitor.
Só falta agora o Estadão adotar também o ombudsman, uma iniciativa de inestimável valor que ainda deixa seu concorrente direto, a Folha, alguns centímetros à frente.
Abaixo, um trecho magistral do artigo de Terry Eagleton que saiu no Aliás deste domingo, abordando o surgimento e a proliferação dos homens-bomba no Oriente Médio:
“Os homens-bomba e os grevistas da fome se dispõem a transformar a fraqueza em poder. Como estão prontos para morrer e seus inimigos, não, eles obtém uma vitória espiritual sobre estes. A derradeira liberdade é não temer a morte. Se você deixa de temê-la, o poder político deixa de dominá-lo. Os que não têm nada a perder são extremamente perigosos. Mas os homens-bomba também roubam de seus antagonistas os únicos aspectos de si mesmos que eles podem controlar: seus corpos. Privando seus mestres desta parte manipulável de si mesmos, eles se tornam invulneráveis. Nada é menos dominável que o nada. Escorregando por entre os dedos do poder, deixando-o de mãos vazias, eles o obrigam a trair a sua própria vacuidade. Trata-se, é verdade, de uma vitória de Pirro. Mas é uma proclamação que o adversário não pode aniquilar o desejo da aniquilação. Como o herói trágico tradicional, o homem-bomba supera a sua própria destruição pela resolução mesma com que a abraça.”