2.2.05

Aquele vazio

Assalto

No quarto de hotel

a mala se abre: o tempo

dá-se em fragmentos.


Aqui habitei

mas traças conspiram

uma idade de homem

cheia de vertentes.


Roupas mudam tanto.

Éramos cinco ou seis que

que hoje não me encontro,

clima revogado.


Uma doença grave

esse amor sem braços

e toda a carga leve

que súbito me arde.


No quarto de hotel

funcionam botões

chamando mocidade

canto, fogo, livro.


Vem a quarteira

depositar a branca

toalha do olvido

insinuar o branco


sabão da calma.

A perna que pensa

outrora voava

sobre telhados.


Em copo de uísque

lesmas baratas

acres lembranças

enjôo de vida.


Ponho no chapéu

restos desse homem

encontrado morto

e do nono andar


jogo tudo fora.

A mala se fecha: o tempo

se retrai, ó concha.

C.D.A.